Em meio a um novo ciclo de alta das criptomoedas, uma previsão ousada reacendeu os debates sobre o futuro do Bitcoin: o renomado analista financeiro e ex-gestor de fundos institucionais Mark Yusko voltou a defender publicamente que o BTC pode atingir US$ 1 milhão até 2035 — uma valorização de mais de 1.300% em relação aos níveis atuais de preço, que giram em torno de US$ 70 mil.
A declaração foi feita durante uma conferência internacional de ativos digitais em abril de 2025, e rapidamente reverberou pelo mercado. Mas será que há fundamentos reais para tamanha projeção ou trata-se de mais uma aposta especulativa?
Por que US$ 1 milhão?
Segundo Yusko e outros analistas que compartilham da mesma visão, a previsão não é apenas um “chute otimista”, mas sim baseada em modelos econômicos, escassez programada e tendências macroeconômicas.
Entre os principais pilares da tese estão:
1. Oferta limitada e halvings
Com apenas 21 milhões de unidades e halvings a cada 4 anos (o próximo previsto para 2028), o Bitcoin é um ativo escasso — algo comparável ao ouro digital. À medida que a emissão diminui, a pressão de compra tende a aumentar, principalmente com a entrada de capital institucional.
2. Adoção institucional crescente
Desde o início da década, ETFs de Bitcoin, grandes bancos como JPMorgan e até mesmo fundos soberanos têm alocado parte de seus portfólios em BTC. Segundo dados da Bloomberg Intelligence, os fundos institucionais já detêm mais de US$ 120 bilhões em Bitcoin em 2025.
3. Fuga do sistema fiduciário
Com a instabilidade geopolítica crescente, dívidas públicas inflacionárias e desconfiança em moedas tradicionais, o Bitcoin vem sendo adotado como hedge contra políticas monetárias expansionistas. Essa função como “porto seguro digital” tem sido um fator de valorização consistente.
Críticas e ceticismo
Apesar da empolgação, diversos economistas tradicionais e analistas cripto contestam a estimativa de US$ 1 milhão. Para eles, esse número pressupõe:
- Uma capitalização de mercado superior a US$ 20 trilhões, o que ultrapassaria o PIB de países como China e se igualaria ao mercado global de ouro.
- Um ambiente global de alta confiança na tecnologia e baixíssima repressão regulatória, o que pode não acontecer diante de ameaças como banimentos, taxações agressivas ou sistemas concorrentes de moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs).
- Adoção global massiva, inclusive entre governos, empresas e indivíduos — algo ainda distante em diversas regiões, especialmente nos países em desenvolvimento.
Além disso, os críticos apontam que previsões passadas similares (como a de John McAfee, que previa US$ 1 milhão até 2020) fracassaram, o que torna qualquer tentativa de projeção de preços uma aposta arriscada.
E o que dizem os modelos matemáticos?
Alguns modelos de precificação tentam sustentar a tese, como o Stock-to-Flow (S2F), que compara a escassez relativa de um ativo com sua taxa de emissão. Segundo o modelo atualizado para 2025, o BTC poderia alcançar valores entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão até 2035, caso a demanda continue crescendo de forma exponencial.
Outro modelo citado é o Power Law, que tenta prever o crescimento do BTC com base em curvas logarítmicas de adoção tecnológica. Ambos, no entanto, são amplamente criticados por simplificarem demais variáveis macroeconômicas complexas.
Perspectiva realista
A grande verdade é que, embora Bitcoin a US$ 1 milhão não seja matematicamente impossível, trata-se de um cenário de altíssimo otimismo, que depende de uma série de fatores se alinharem perfeitamente: adoção em massa, estabilidade regulatória, crescimento global do ecossistema, ausência de tecnologias concorrentes mais eficientes e preservação da segurança da rede.
Especialistas mais conservadores, como os da Fidelity e BlackRock, projetam que o BTC poderia chegar entre US$ 250 mil e US$ 500 mil nos próximos 10 anos, caso mantenha sua trajetória como reserva de valor global — o que já seria um ganho gigantesco.
Conclusão
A previsão de Bitcoin a US$ 1 milhão em 2035 pode parecer ousada, mas não é tão fantasiosa quanto já foi no passado. Com a crescente institucionalização do mercado, maior clareza regulatória e escassez programada, há fundamentos que sustentam uma possível valorização substancial.
Entretanto, é essencial que investidores mantenham o pé no chão e não se deixem levar por narrativas puramente emocionais. Como sempre no universo cripto: visão de longo prazo, gestão de risco e diversificação continuam sendo os melhores conselhos.
Se o BTC vai ou não chegar ao tão sonhado US$ 1 milhão? O tempo (e o mercado) dirão.