Com os mercados de criptomoedas navegando por um 2025 de alta instabilidade, as stablecoins voltaram a ser colocadas à prova. Ativos como USDT (Tether) e USDC (USD Coin), que prometem paridade 1:1 com o dólar americano, enfrentam desafios crescentes diante de liquidações massivas, pressões regulatórias e mudanças nas reservas que os respaldam.
Neste artigo, analisamos como essas stablecoins têm se comportado em meio à volatilidade extrema, por que ainda mantêm sua dominância e quais os riscos reais para quem confia nelas como “portos seguros” em tempos turbulentos.
Testes de fogo em 2025
O primeiro semestre de 2025 foi marcado por quedas abruptas no Bitcoin e Ethereum, forçadas por liquidações bilionárias e intervenções macroeconômicas dos Estados Unidos e Europa. Nessas ocasiões, os olhos do mercado voltaram-se para as stablecoins, em busca de estabilidade temporária.
Durante uma sequência de liquidações de US$ 5 bilhões em posições alavancadas no início de abril, tanto USDT quanto USDC mostraram ligeiras oscilações, mas mantiveram a paridade com o dólar na maioria das corretoras — oscilando entre US$ 0,998 e US$ 1,002.
Porém, o verdadeiro teste veio com a suspensão temporária de operações bancárias nos EUA, que dificultou saques em dólar de emissores como Circle. Isso gerou um estresse momentâneo no USDC, que chegou a ser negociado a US$ 0,987 em algumas DEXs.
O que garante a estabilidade?
USDT (Tether): Maior liquidez, menor transparência
Tether segue como a maior stablecoin do mercado, com mais de US$ 90 bilhões em circulação em 2025. A empresa garante que seus tokens são 100% lastreados em reservas — compostas por títulos do Tesouro dos EUA, caixa e outros ativos de alta liquidez.
Apesar disso, a transparência sobre a composição dessas reservas continua sendo motivo de críticas. Auditorias externas completas ainda são escassas, e o Tether historicamente resiste a divulgar dados em tempo real.
Ainda assim, sua ampla aceitação global e presença em quase todas as corretoras garantem uma forte resiliência em momentos de estresse.
USDC (Circle): Mais transparência, mais exposto a bancos
O USDC, emitido pela Circle, é frequentemente visto como a stablecoin “regulada” do setor. Suas reservas são auditadas por terceiros, com relatórios mensais, e sua exposição está majoritariamente em ativos líquidos dos EUA.
Contudo, isso também o torna mais vulnerável a interrupções no sistema bancário tradicional. Em março de 2023, o colapso do Silicon Valley Bank já havia causado um depeg temporário no USDC, e em 2025, novas tensões com bancos regionais voltaram a levantar dúvidas sobre sua estabilidade em cenários extremos.
Ameaças crescentes e concorrência descentralizada
A ascensão de stablecoins descentralizadas, como DAI e cripto-colateralizadas como crvUSD e sDAI, pressiona ainda mais os modelos tradicionais.
Embora esses tokens não tenham ainda a mesma liquidez de USDT e USDC, sua independência de bancos centrais e instituições financeiras atrai cada vez mais usuários preocupados com riscos sistêmicos.
Além disso, iniciativas como o euro digital e stablecoins soberanas asiáticas estão testando modelos híbridos, que mesclam descentralização e governança estatal — o que poderá transformar profundamente o papel das stablecoins tradicionais no médio prazo.
E se a paridade for quebrada?
Quebras de paridade, conhecidas como depegs, podem ocorrer em momentos de estresse — e embora temporários, esses desvios têm implicações enormes para traders, protocolos DeFi e investidores institucionais.
Imagine um empréstimo colateralizado em USDC que subitamente vale menos de US$ 1. Isso pode disparar liquidações, perda de confiança em pools DeFi e colapsos de estratégias automatizadas.
A confiança nas stablecoins depende diretamente da percepção de que elas sempre podem ser convertidas por US$ 1,00 real, algo que nem sempre é garantido quando há problemas bancários, falta de liquidez ou pânico no mercado.
Conclusão
2025 mostra que, apesar dos avanços em infraestrutura e auditoria, as stablecoins ainda caminham sobre uma linha tênue entre confiança e colapso.
USDT e USDC continuam sendo pilares do mercado cripto, mas sua resiliência não é infalível — e o comportamento do mercado em tempos de crise é prova disso.
Para investidores, a lição é clara: diversifique sua exposição em stablecoins, compreenda os riscos estruturais de cada uma e mantenha vigilância constante sobre seus emissores.
A busca por estabilidade continua sendo um dos principais desafios da criptoeconomia — e quem compreende isso, navega melhor por suas incertezas.